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domingo, 4 de março de 2012

MÉTODO PSICOGENÉTICO

Obra de Lauro Oliveira Lima


      Uma das características principais da obra de Lauro de Oliveira Lima é uma análise crítica à educação brasileira, ao mesmo tempo em que propõe soluções. Neste contexto, é importante entender como ele define o ato de criticar. Para ele não existe crítica construtiva, já que toda crítica, por si só, é destrutiva, pois se dispõe a destruir o estabelecido. A construção advinda da tentativa de destruição crítica dependerá da maturidade de quem a recebe. Este sim, construirá. A crítica, portanto, para que seja eficaz, depende da maturidade de ambas as partes: de quem critica (limitando-se a análise do fato, sem se deixar levar pelas emoções) e de quem é criticado (ponderando sobre o que ouviu). Esta é sua postura crítica diante da educação. Suas críticas são sempre contundentes e não deixam que o leitor fique impassível diante daquilo que ele afirma. 
      Para ele, apesar de já nos encontrarmos na era do satélite, a educação brasileira ainda se encontra na era do "lector" medieval, quando não se conhecia o livro. Professores que se colocam diante de uma turma de alunos para recitar conteúdos que eles mesmos aprenderam nos livros.

      O professorado brasileiro não atingiu sequer a 'Galáxia de Gutemberg': utilização do livro.
      Comporta-se, ainda, como o 'lector' medieval que 'recitava' pergaminhos e papiros para alunos analfabetos.
      A biblioteca não é ainda a fonte de informação: transmite suas 'mensagens' oralmente, como faziam os povos pré-históricos, sem tradição escrita (Lima, 1975a, p. 9).

      Fundamentalmente Lauro de Oliveira Lima denuncia que novos processos didáticos, desenvolvidos a partir de descobertas científicas recentes em relação ao desenvolvimento humano, não são sequer conhecidos pela maioria dos educadores. Este é o grande problema da educação brasileira: a falta de uma didática que permita a formação adequada de indivíduos que serão capazes de planejar o futuro. 
      Poderíamos entender então que existe um arcaismo inútil que caracteriza a educação brasileira e uma utopia possível e efetiva a ser construída. Sua análise tem como base as teorias epistemológicas de Jean Piaget. Pode-se dizer que sua tentativa de destruição do sistema pedagógico brasileiro atual, bem como a sua subseqüente construção, deve ter bases científicas nos experimentos de Jean Piaget (ver Jean Piaget). Desta forma, para atender ao sonho de seu ideal de educação, Lauro criou o "Método Psicogenético", estruturado a partir das descobertas científicas de Piaget. 
      A dinâmica de grupo é tida como a didática básica. "O professor não ensina; ajuda ao aluno a aprender" é o princípio fundamental. O professor deve deixar de lado sua postura de "professor-informador" para assumir a postura de "professor-orientador", assim como um "técnico de futebol", que organiza o time em campo. A discussão entre todos é a didática fundamental:

      O trabalho, deixando de ser manual para ser intelectual, deixando de ser individual para ser grupal, deixando de ser linha de produção (linear) para ser uma decisão (circular), transformar-se-á em discussão (Lima, 1975a, p. 31).

      O quadro-negro (que agora é verde) é um artifício obsoleto nesta didática. Se "o professor não ensina", o indivíduo irá aprender através de atividades planejadas pelo professor como, por exemplo, pesquisas, leituras, passeios, etc., sempre orientados pelo professor. Atentando-se que estas atividades são sempre grupais para que todos possam educar a todos, construindo o conhecimento na interação entre eles.

      A idéia de ensino será substituída por uma auto-aprendizagem, cabendo ao professor criar situações (animador), em que os jovens se disponham a utilizar a informação de que está prenhe o ambiente (Lima, 1975a, p. 27).

      Segundo Lauro de Oliveira Lima "a escola tem representado, até aqui, um 'complot' contra a livre pesquisa intelectual, fornecendo fórmulas já acabadas que robotizam a solução dos problemas" (Lima, 1975a, p. 13). Não podemos saber como será o mundo de amanhã. Então o jargão de se estar formando homens para o amanhã é falso, já que não podemos prever o futuro. Cabe então à escola preparar o indivíduo para resolver situações-problemas, em qualquer momento histórico. "Educar já não é prever as necessidades sociais, mas preparar os jovens para o imprevisível" (Lima, 1975, p. 18). A tarefa do professor é estimular a superação de um nível de conhecimento para outro superior, deixando que os alunos, no processo de interação da sala de aula, construam o aumento do seu conhecimento. Um exemplo prático, citado pelo professor Lauro num curso em Belo Horizonte: as criança estavam utilizando o escorrega com perfeição, subindo pela escada e descendo pelo escorrega. O professor Lauro sugeriu que a professora estimulasse o inverso: subir pelo escorrega e descer pela escada. Com esta atitude a professora estará incentivando a criança a se superar, a sair saia daquele estágio em que se encontra para alcançar um outro nível de complexidade de desenvolvimento. Se as crianças estavam cumprindo a tarefa de subir pela escada e descer pelo escorrega com perfeição, elas estavam acomodadas naquele nível de desenvolvimento. Quando a professora sugere uma tarefa de complexidade superior ela está ajudando as crianças a assimilar um novo nível de equilíbrio, o equilíbrio majorante (ver glossário de termos piagetianos). 
      Isto vale como princípio didático para qualquer disciplina. Sempre guiado pelo mandamento de que "o professor não ensina; ajuda o aluno a aprender". No exemplo acima a professora poderia "mostrar como se faz" para as crianças, o que não teria nenhum valor no esforço de conquista da nova aprendizagem a ser enfrentada pelos alunos. Portanto, a aula expositiva (conhecida no jargão pedagógico como "aula de salivação") é incompatível com o esforço para inventar que deveria estar sendo empreendido pelos alunos. Para Lauro de Oliveira Lima todo desenvolvimento requer esforço para que se possa construir estruturas ou estratégias de comportamento cada vez mais complexas. 
      O professor tem por obrigação profissional estimular a criatividade do aluno para resolver situações-problemas.

      Desafiemos, em cada aula, os alunos a resolver problemas, mandemo-los pesquisar nos livros ou na natureza e podemos sentar-nos lá num canto que a aprendizagem se efetua febricitante, álacre, tal como os jovens brincam horas e horas de esconde-esconde. 'O Brasil foi descoberto por acaso?' Tomem os livros e vamos verificar isto: 'Por que na baía de Guanabara há uma ilha com nome francês (Villegagnon)?' Pesquisem em seus livros. 'Como se poderia esconder um tesouro numa ilha e encontrar depois o lugar?' Pensem sobre isto. Procurem resolver. No fim da aula, enato, o professor diria: 'Como vocês devem ter percebido, estudamos hoje o descobrimento do Brasil, etc., etc..
      Eis a aula toda pelo avesso e os alunos aprendendo a pensar e não a ouvir e decorar discursos... (Lima, 1974, p. 193).

      A aula expositiva torna-se então quase um desestímulo à criatividade ou uma ofensa contra o aluno, já que pressupõe uma incapacidade de interpretação e leitura de mundo por parte dele. O surgimento do livro condenou a aula expositiva à morte.

      O professor que faz o aluno ler, comentar, analisar, dissecar, apreciar textos de alto valor literário, não precisa preocupar-se com o ensino da gramática, que é uma atitude fria e lógica sobre um problema de natureza altamente afetiva como a linguagem literária ou coloquial (Lima, 1974, p. 104).

      Insisto que isto vale para qualquer disciplina, em qualquer nível de ensino, da pré-escola aos cursos de pós-graduação. As atividades grupais podem ser exploradas indefinidamente de uma forma alegre e descontraída, transformando o processo de aprendizagem de uma sala de aula num autêntico processo de "co+operação" (operação em conjunto de vários sujeitos). Além disso, o que se aprende com alegria aprende-se melhor, de maneira mais efetiva. 
      Mesmo os meios audiovisuais, que representam, de qualquer forma, um avanço didático, devem ser usados de maneira que sirvam de ponto de partida de uma situação-problema. Apresentá-los para formar conhecimento é roubar do aluno a oportunidade de reflexão e de formação de hábitos de pesquisa. Alguns professores chegam mesmo a projetar lâminas em retroprojetores e ler (ditar) para os alunos aquilo que está sendo projetado, o que todos poderiam fazer sozinhos. Não se deve usar meios auxiliares a aprendizagem se não se sabe fazer uso deles. Utilizá-los para prender a atenção dos alunos (quando se consegue!) torna-se um artifício inócuo em termos de aprendizagem.

      Não ter noções claras sobre o que está fazendo, seria o mesmo que ser guia de uma caravana, numa região perigosa, que se desconhece: seria isto, simplesmente, irresponsabilidade (Lima, 1974, p. 169).

      O professor, para entrar numa sala de aula, deve ter claros os objetivos a alcançar e saber recorrer aos meios que o levam aos objetivos determinados. Sem esquecer que a didática fundamenta-se prioritariamente na psicologia e que o professor não pode unicamente apoiar-se no pedagógico. Resumimos então a pedagogia piagetiana (Método Psicogenético) com Os Dez Mandamentos da Escola Piagetiana:

      1 - Não ensine: provoque a atividade da criança (algo parecido com a brincadeira tradicional de "adivinhação");
      2 - Leve as crianças a discutirem entre si a situação proposta e respeite suas conclusões, mesmo que "erradas" (a solução dada pelas crianças corresponde ao seu nível mental);
      3 - Não trabalhe na base da linguagem (sendo um produto social assimilado por imitação, a linguagem nada diz sobre o verdadeiro nível de desenvolvimento da criança);
      4 - Não prestigie a memorização: o melhor resultado é o que demonstrar capacidade de inventar e descobrir (mesmo que, do ponto de vista do professor, a solução seja errada);
      5 - Comporte-se como técnico do time de futebol: estimule, sugira, critique, mas não jogue (o jogo é das crianças);
      6 - Use como "material" o que existir no mundo da criança (seja ela de uma favela ou de um bairro grã-fino);
      7 - Sempre que a criança superar um patamar, complexifique a situação (sem isto, a criança se "especializa" na solução obtida);
      8 - Na alfabetização utilize as marcas e logotipos que estão espalhados pela cidade e são utilizados no dia-a-dia da família (Não se prenda às cartilhas);
      9 - Organizar as crianças em grupos (pode até tomar como modelo inicial o escotismo), deixando que elas criem as regras de convivência (educação moral e cívica é democracia);
      10 - Leve as crianças a compreender o que fizeram ("tomada de consciência"), quer a atividade seja motora, verbal ou mental (incluindo, aí, os atritos surgidos entre as crianças) (Lima, 1984a, p. 70).

      O livro que melhor descreve sua didática é "A Escola Secundária Moderna", que chega a ser uma espécie de "manual" para orientação de educadores.




Comparações sintéticas entre as características
da escola tradicional e o Método Psicogenético.

      A partir da leitura da obra de Lauro de Oliveira Lima podemos fazer uma comparação-resumo do que representa para a didática a escola tradicional e o que propõe oMétodo Psicogenético. Talvez outros nomes ou adjetivos possam ser acrescidos, mas estes dão uma nítida noção comparativa entre uma realidade e outra. As comparações a seguir são apenas um resumo elaborado pelo autor deste trabalho, retirado da obra estudada. O livro "A Escola Secundária Moderna" contém, em apêndice, com a colaboração do professor Eduardo Diatahy Bezerra de Menezes, um trabalho como este, porém mais aprofundado.


ESCOLA TRADICIONALMÉTODO PSICOGENÉTICO
Ensinoaprendizagem
Aula expositivadinâmica de grupo
Dar aulaorientar um período de aprendizagem
Aulabrincadeira
Memóriainteligência (solução de problemas)
Torturaprazer
"Caretice""cabeça-feita"
"Psicodélico" ("doidão")criativo
Frauderelaxamento
Recursos áudio-visuaistécnicas de aprendizagem
"Eu tô na minha""Eu tô na nossa"
Programaobjetivos
Disciplinainterdisciplinariedade
Linearidadecomplexificação
Professorequipe interdisciplinar
Memóriacriatividade
Repressão (proibições/
terrores irracionais)
"É proibido proibir"
Saber escolarsaber de rua
Fazercompreender
Acerto como avaliaçãoerro como avaliação
Avaliação pelo professoravaliação pelos alunos
Perspectivasnecessidades
Heteronomiaautonomia
Engajamento acríticocrítica da realidade
Equilibraçãodesequilibração
O que fazerpara que e porque fazer
Produtoprocesso
Rendimentoludicidade
Perfeitopossível
Mando/obediênciadiscussão
Autoritarismoautoridade
Imposiçãorespeito
Decisão unilateraldecisão grupal
Resposta prontadesafios
Individualgrupal
Adestramentocrescimento
Macetesconstrução
Co + açãoco + operação
Devercooperação
Chefialiderança emergencial
Prêmio e castigogrupo-análise
Professor informadorprofessor orientador
Aluno ouvintealuno pesquisador
Escola = casa do professorescola = casa da criança/estudante


      Terminaria por analisar a obra de Lauro de Oliveira Lima citando uma frase de seu filho Lauro Henrique: "VELHO, NÃO ESTÃO VENDO QUE VAI FICAR ASSIM. . . POR QUE NÃO COMEÇAM LOGO ?!!!!" (Lima, 1975a, p. 64).
      Ora, pedagogos de todo o mundo, não estamos "vendo que vai ficar assim?" Por que não começamos logo????

 fonte:http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per10g.htm

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PENSAMENTOS

PENSAMENTOS

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."



" O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos."( Rubem Alves )


"As crianças têm uma sensibilidade enorme para perceber que a professora faz exatamente o contrário do que diz".( Paulo Freire )


De que adiantará um discurso sobre a alegria se o professor for um triste?"
( Artur da Távolla )


"Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo, se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.”
Carlos Drummond de Andrade



Nós mesmos sentimos que o que fazemos é uma gota no oceano.
Mas o oceano seria menor se essa gota não existisse."
(Madre Teresa de Calcutá )